Nas últimas semanas, grande parte da atenção da opinião
pública voltou-se para as questões que envolvem a nossa juventude, que ganharam
inédita importância com as manifestações que sacudiram o país.
À juventude costuma-se sempre agregar a noção de futuro, do
que ainda está por ser realizado.
Mas a resignação em adiar projetos e soluções para um tempo
que ainda virá não deixa de ser uma forma de transferirmos indefinidamente
responsabilidades. E de perdoarmos a nós mesmos, enquanto sociedade, por tudo o
que ainda não fomos capazes de fazer.
Duro mesmo é reconhecer que o Brasil de hoje já é o Brasil
do futuro que várias gerações imaginaram e pelo qual muitos trabalharam. E mais
duro ainda é reconhecermos que certamente estamos muito aquém do que tantos
brasileiros sonharam. E mereciam.
Penso nisso estimulado pela disseminação da percepção de que
vivemos uma autêntica revolução e que ela nos coloca no portal de um mundo que
inaugura novas relações sociais e humanas, provocadas por enormes
transformações tecnológicas. Ainda que seja constatação verdadeira, quando
apresentado e endeusado como valor absoluto, o novo acaba por transformar em
obsoleto o que veio antes.
Muitas vezes, a sensação que parece prevalecer é que quase
tudo o que nos trouxe até aqui já não faz tanto sentido. Será?
Lembrei-me de Ruy Castro e de suas crônicas recheadas de
ironia e inteligência, aqui mesmo nesta Folha, onde volta e meia nos alerta
para o reconhecimento que devemos a nomes importantes da nossa cultura.
O puxão de orelhas é pertinente.
Um bom exercício de educação civilizatória é a percepção do
papel insubstituível de brasileiros que fazem grande diferença. Antonio Candido
é um exemplo. O professor e pensador, que recentemente completou 95 anos,
continua a nos oferecer o seu valioso patrimônio de ideias.
Foi, aliás, com especial alegria que, em 2007, tive a
oportunidade de manifestar-lhe a admiração dos mineiros entregando-lhe o Prêmio
Governo de Minas Gerais de Literatura, então na sua primeira edição.
O professor é referência de idoneidade intelectual, espírito
cívico e dignidade pessoal. Sua obra atesta o compromisso radical com a
compreensão da realidade à sua volta. Literatura é vida, ele generosamente nos
ensina.
Há dois anos, numa entrevista em Paraty, ele se confessou
"um homem do passado, encalhado no passado".
O mestre estava errado. O seu legado, ético e intelectual,
longe do ancoradouro das coisas envelhecidas, ilumina um caminho permanente de
amor e respeito pelo Brasil.
Homens assim, independentemente da idade ou do tempo em que
vivam, serão sempre referência do futuro que precisamos ser.
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